PRF registrou quase 3 milhões de multas por excesso de velocidade em 2023

Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que o número de infrações por excesso de velocidade cresceu 132% no ano passado em comparação com 2022. Enquanto em 2023 foram registradas 2.961.624 infrações por transitar em velocidade superior à máxima permitida, em 2022 esse número ficou em 1.275.703.

No ano passado, metade das infrações cometidas por motoristas brasileiros se referia ao excesso de velocidade. Em 2022, essa proporção era de 30%. “Esse dado é assustador e revela de forma inequívoca que o motorista brasileiro está mais imprudente. Por isso, infelizmente, não é de se estranhar o crescimento no número de sinistros e de mortes no trânsito”, comenta o coordenador nacional da Mobilização de Médicos e Psicólogos Especialistas em Tráfego, Alysson Coimbra.
Os dados da PRF mostram que o excesso de velocidade foi o terceiro maior causador de sinistros nas rodovias federais em 2023, ficando atrás apenas de causas relacionadas à desatenção (reação tardia do condutor; ausência de reação do condutor e acessar a via sem observar a presença de outros veículos) e de motoristas que deixaram de manter distância do veículo à frente.
Segundo a PRF, no ano passado 25.456 sinistros foram provocados por causas relacionadas à desatenção; 4.263 foram causados por motoristas que não mantiveram distância segura do veículo à frente e 4.239 ocorrências envolveram condutores que dirigiam em velocidade incompatível com a permitida na vida. “As ruas, avenidas e rodovias têm um limite de velocidade para proteger a vida de todos nesses espaços coletivos. Esse número não é determinado pelo acaso, é fruto de um trabalho técnico-científico. Estudos já mostraram que, se alguém for atropelado por um carro a 60 km/h, as chances dessa pessoa morrer são de 98%. Se a velocidade for reduzida para 40 km/h, o risco de morte cai para 35%. Ou seja, correr no trânsito mata”, completa o especialista em segurança viária.
Causa, efeito e solução
Na avaliação de especialistas em Medicina e Psicologia do Tráfego, fatores como estresse, ansiedade, transtornos de conduta, aliados à sensação de impunidade, à falta de empatia e desprezo pela vida contribuem para a imprudência no trânsito. Para minimizar o problema, eles apontam a necessidade de revisão da periodicidade das avaliações médicas e psicológicas para os motoristas, campanhas de educação no trânsito e aumento da fiscalização nas ruas, avenidas e rodovias.
A avaliação psicológica (AP) é obrigatória para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e complementar ao exame de aptidão física e mental (EAFM) realizado pelos médicos, pois permite identificar traços de personalidade, agressividade, propensão à dependência química, problemas com álcool e questões sociais e afetivas que podem afetar a segurança no trânsito. “Atualmente, o laudo psicológico é emitido com validade vitalícia por ocasião da primeira habilitação normalmente aos 18 anos, um fator de risco, considerando que algumas doenças mentais podem se manifestar até os 30 anos de idade, período do desenvolvimento cerebral da pessoa. Os testes psicológicos utilizados na avaliação são instrumentos fundamentais para o diagnóstico de condições que podem não ser facilmente identificadas durante o exame médico. Portanto, é fundamental que a avaliação psicológica também seja realizada de forma frequente e complementar ao exame médico, a fim de garantir uma análise mais abrangente e precisa das condições mentais e comportamentais dos motoristas”, detalha o especialista.
O especialista em Medicina do Tráfego, Alysson Coimbra
Os últimos acontecimentos envolvendo questões relacionadas ao comportamento e saúde dos condutores reforçam o alerta dos especialistas: a onda de discussões, desrespeito às leis, brigas, lesão corporal e mortes evitáveis reforçam que é preciso um olhar emergencial e multidisciplinar para o trânsito. “O maior cuidado com a saúde dos condutores terá impacto na preservação de vidas de toda sociedade. Além de aumentar a punição e a fiscalização e de campanhas educativas mais contundentes, é indispensável cuidar de forma adequada da saúde dos motoristas. Precisamos da união de todos, um esforço conjunto entre as autoridades, os especialistas e a sociedade. Somente assim será possível salvar vidas nas ruas e estradas desse país”, completa Coimbra.

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