Fonte: DCI-
São Paulo – O setor de transportes terrestres, que amorteceu a queda dos serviços em junho deste ano, de acordo com o IBGE, também será o responsável por postergar a retomada da atividade como um todo. Com o aumento da tributação em cima dos combustíveis, o mercado mensura um reajuste no frete em cerca de 5%.
De acordo com empresários, sindicatos e entidades ouvidas pelo DCI o setor segue pressionado pela crise desde 2015, e o reajuste do frete tem sido sistematicamente adiado para manutenção de contratos. “A alta na alíquota dos impostos nos combustíveis é um banho de água fria para o setor, e estimamos uma pressão de ao menos 5% no custos dos caminhoneiros autônomos”, disse o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Goiás, Cesar Emanuel Contrin.
“Não repassamos o reajuste da inflação nos contratos porque perderíamos clientes. O aumento do combustível impacta o caminhão quando ele vai com carga, mas pressiona ainda mais o movimento de volta do motorista, que geralmente acontece sem carga para transportar.”
O caminhoneiro autônomo Sidney Madureira, que transporta cargas industriais na região do Centro-Oeste afirma que não aumentou o preço do frete desde junho do ano passado. “Não tenho como segurar mais. A gente segurava para manter o contrato, mas agora vou ter que renegociar”, disse.
Entre as transportadoras de médio porte, a situação é muito similar. Na TransMais, empresa paranaense de transporte de grãos, o bom momento do agronegócio sustentou o avanço da empresa nos últimos meses, mas o quadro para o futuro não é tão promissor. “Com o fim da safra, precisamos de outros contratos para manter a receita, porque além do combustível, há também o fim da desoneração na folha do pagamento do setor”, diz o presidente da empresa, Emerson Pacheco. A TransMais, tem 13 caminhões em sua frota e mais de 100 funcionários.
Pior momento
O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade, classifica a decisão do governo federal como ‘catastrófica’ para o setor. De acordo com o ele, o impacto no valor do frete pode chegar a 2,5% dependendo da distância, em um momento em que o setor deixa de ter o benefício da desoneração na folha de pagamento. “Para barrar o déficit público, em vez de elevar impostos, o governo precisa buscar novas receitas de concessões e privatizações, investir em infraestrutura e seguir na modernização do Estado” diz ele, que completa: “Há também o risco de mais demissões no setor.”
De forma similar pensa o assessor técnico da Agência Nacional de Transporte de Cargas (ANTC), Lauro Valdívia. Segundo ele, o aumento do imposto do combustível pode gerar alta de até 4% no preço do frete. Além do impacto direto no custo dos alimentos para o consumidor, Lauro ressalta que os produtos ficarão mais caros no Norte e Nordeste, regiões mais distantes dos polos produtores no Sul e Sudeste.
De acordo com a ANTC, o combustível representa 40% do custo de um frete. “O transportador não tem como não repassar. Ele está sem margem nenhuma. O frete cai desde 2014. Mesmo na época boa, a margem [de lucro] era de 5%, fica difícil segurar”, disse.
Além do mercado interno, o aumento pode impactar o mercado externo. Os caminhões que transportam carga para a exportação são maiores e o combustível ultrapassa a média de 40% do frete.
A decisão do governo, que seu deu para elevar a arrecadação federal, fez com que a alíquota de PIS e Cofins passasse de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 para o litro da gasolina e de R$ 0,2480 para R$ 0,4615 para o diesel nas refinarias.
“O setor recebeu esse aumento com preocupação. Estávamos pleiteando a desoneração do diesel justamente para equilibrar o valor do frete, que está abaixo da realidade”, contou o porta-voz da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Bolívar Lopes.
Para ele, apesar da pressão no caminhoneiro, muitos ainda tentarão segurar o frete. “Nesse momento as negociações vão ser muito importantes, mas os contratos serão vistos com cautela.”
Paula Cristina