Problemas no agro afetam indicadores econômicos

Fonre:Equipe SNA/Rio-

Problemas no setor agropecuário verificados nas últimas semanas, como a greve dos caminhoneiros, causaram a deterioração dos indicadores econômicos do País. É o que revela Marcos Fava Neves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

Com base no Relatório Focus do Banco Central, Neves destaca que “a expectativa de crescimento para esse ano no País caiu de 2,18% para 1,94%”. Já a expectativa para 2019 “aumentou de 4% para 4,07%”.

Em relação às taxas de juros, “a Selic permanece estável em 6,5% no final de 2018 e atingirão 8% no próximo ano”, diz o especialista. No câmbio, Neves lembra que “a expectativa no início deste ano era de algo próximo a R$ 3,30/dólar, e agora está em R$3,50/dólar”.

Apesar do quadro atual, as exportações do agro em maio “foram surpreendentes”, na avaliação do professor da USP. “Mesmo com a greve que interrompeu o porto de Santos em mais de uma semana, as exportações somaram US$ 10 bilhões (3% acima de maio de 2017), e retirando-se as importações de US$ 1 bilhão, o superávit foi 4,7% maior, totalizando US$ 8.9 bilhões”.

SOJA E PARCERIA COM A CHINA

Neves salienta que “a soja foi o destaque, com quase 23% acima de maio de 2017, e algo próximo a US$ 5.8 bilhões”. No entanto, segundo ele, “o tombo maior foi nas carnes, que perderam mais de US$ 1.1 bilhão, com recuo de quase 10%”.

Em relação à China, o especialista afirma que as vendas em maio cresceram 28,1%, para quase US$ 4.5 bilhões. No entanto, acrescentou que “é preciso observar com muito cuidado a situação comercial EUA x China que, dependendo do rumo que tomar, trará impactos distintos para a cadeia do agro brasileiro”.

ESTIMATIVAS

Quanto à estimativa de safra 2017/18, o professor da USP cita os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que refletem os impactos da seca. “A produção esperada é de 229.7 milhões de toneladas de grãos (3,4% maior que a safra anterior), em 61.6 milhões de hectares e área 1,1% menor que a safra anterior”, observa Neves.

“A segunda safra de milho deve cair 13,6% em relação à safra passada, e 7,5% em comparação à estimativa anterior. São quase 13 milhões de toneladas de milho a menos que a safra passada”.

Em relação à soja, o especialista indica que são esperadas 118 milhões de toneladas . Já o trigo, afirma Neves, “terá crescimento de 4% na área e de quase 10% na produtividade, com produção de 4.9 milhões de toneladas”.

TABELAMENTO DE FRETE

Sobre a recente questão do tabelamento de frete, o professor acredita que “assim que uma tabela oficial aparecer, em um mês as forças de mercado provocarão nela um abalo”.

“Quem garante que caminhoneiros independentes seguirão uma tabela de preços? Há mais de um milhão de transportadoras no Brasil, e 95% delas tem menos de cinco caminhões. Fora isso, o tabelamento pode levar ao risco de investimentos em verticalização das atividades, com produtores e indústrias internalizando a função de transporte, o que em ‘tempos de Uber’ seria mais uma grande ineficiência”, avalia Neves.

Além disso, questiona o especialista, “não podemos menosprezar o avanço da tecnologia e nem deixar de indagar se em 20 anos a função de condutor de caminhões ainda vai existir”.

DEPENDÊNCIA

Neves ressalta que a recente greve dos caminhoneiros resultou em perdas da ordem de R$ 16 bilhões, em boa parte decorrentes do agronegócio.

Ele também chama a atenção para “a excessiva dependência do transporte via caminhões, que no Brasil, segundo ele, atinge 65% do volume de carga. “Em relação aos grandes países, o Brasil é o que tem maior dependência”, afirma. “Portanto, devemos retomar com força os projetos de ferrovias e hidrovias, com investimentos internacionais e novas concessões”.

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