Fonte: DCI/Vivian Ito-
Frente a forte perda de negócios, e com margens apertadas, empresários da logística aprenderam que cliente feliz é cliente fiel, e contam com contrato feito na recessão para futura retomada
Mesmo com perspectivas econômicas ainda instáveis para o balanço financeiro das transportadoras de carga terrestre em 2017, a pesquisa lançada hoje (22) pela GKO Informática e RC Sollis aponta que mudanças estruturais necessárias para sobreviver, nos últimos dois anos, também têm ajudado na relação com clientes embarcadores.
De acordo com diretor da GKO Informática, Ricardo Gorodovits, apesar do viés negativo da crise – pressão das margens e redução da movimentação de carga -, questões como revisão de malha e reestruturação de processos logísticos têm levado as transportadoras a agradarem mais os clientes, trazendo mudanças mais consolidadas. “Mostra disso é que não temos mais, por parte dos embarcadores, um nível de intenção tão alto de mudar de fornecedores”, diz. Segundo ele, a crise trouxe como benefício uma melhora nos processos e consequentemente uma estabilidade maior nas relações de parceria.”Se olhássemos há dois anos, as respostas não teriam tanta semelhança. Depois de dois anos de ajustes pesados, chegamos a um momento em que o diálogo entre o embarcador e transportadora se encontram.”
A pesquisa também aponta que nos últimos dois anos as empresas de transporte tiveram que rever seus modelos de negócio para manter a sustentabilidade do serviço e isso tem surtido efeito na fidelização das embarcadoras. “Vemos uma preocupação maior na redistribuição de malha e reestruturação dos processos logísticos, por exemplo. Existem ações tomadas como resultado da perda, mas também ações estimuladas pela crise que permitem que se trabalhe melhor”, explica Gorodovits.
Desafios
Se por um lado, o executivo comenta que os processos mais pesados foram resolvidos, ele ressalta que ainda é necessário resolver questões mais ‘micro’. De acordo com a pesquisa, cerca de 77% das empresas consultadas têm menos de 50% de seu faturamento sob contrato formal e 40% delas têm menos de 10% de sua receita sob contrato formal. “Os processos seguem obrigações legais, mas o contrato do negócio costuma ser um documento de pedido com regras generalistas. O ideal é ter regras da relação direta entre o embarcador e as transportadoras.”
Outro desafio citado pelo executivo é maior compromisso com informações relacionadas a entrega. “Mesmo existindo tecnologia para isso, muitas transportadoras ainda não têm informações em tempo real da entrega da mercadoria”, conta.
Isso, para ele, revela um gargalo ainda maior que é a implementação de tecnologia dentro das empresas do setor. “Hoje existem recursos tecnológicos para promover um cenário mais seguro e eles não são bem aproveitados”, comenta Gorodovits.
Outras tendências apontadas na pesquisa que devem beneficiar as transportadoras é a reestruturação da operação logística dentro das embarcadoras que devem levar ao aumento de contratação especializada. De acordo com a pesquisa, cerca de 66% das embarcadoras querem aumentar o nível de terceirização, o que deve acarretar em uma diminuição de sua frota própria ou até a extinção da mesma.
Questionado sobre a tendência de frete, ele indica que não teve continuar retraindo. “Mas não deve subir, deve ficar estável”, discorre.
Na opinião do presidente da Abralog, Pedro Francisco Moreira, as perspectivas para o setor estão melhores, mas 2017 ainda deve ser um ano desafiador. “De fato vemos empresas mais fidelizadas, mas devemos ver mais isso em 2018. Este ano, ainda podemos ver empresas pressionadas pelo frete”, coloca o executivo.
Segundo a Abralog e Setcesp, o fator preço tem se tornado um dos mais importantes para as embarcadoras. Enquanto o fator era um dos mais desejados entre 16% das empresas consultadas em 2015, em 2016 a atribuição passou para 30%. Já questões como qualidade tiveram um salto de 14% em 2015 para 8% e prazo de entrega foi de 38% para 26%, o que mostra ainda uma grande pressão nos contratos. “Mas tende a melhorar entre o terceiro e quarto trimestre do ano”, diz Moreira.
Alguns sinais de que o cenário deve começar a melhorar, segundo Moreira, são “o setor de embalagem que voltou a produzir – e é o início da cadeia – e a indústria paulista que voltou a contratar mais do que demitir, depois de dois anos de queda. São sinais modestos, mas deixarão de ser.”