São Paulo – A solução para os gargalos de logística do agronegócio brasileiro passa pela ação da iniciativa privada independente das decisões do governo. A avaliação é do novo presidente do Comitê de Logística e Competitividade da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Cláudio Graeff.
Ele assumiu o comitê em outubro, com o desafio de atualizar as informações sobre as demandas do agronegócio e encontrar uma forma de contornar os problemas, especialmente de escoamento e armazenagem da produção. “Até agora, o comitê vinha trabalhando em um diagnóstico desses problemas, concluído em 2015. O que faltou foi definir os projetos prioritários e como executá-los. Esse é o nosso desafio”, afirma Graeff.
O primeiro passo será a atualização desse diagnóstico e a busca de apoio para que os planos saiam do papel. “Nesse sentido, a iniciativa privada tem que tomar a frente para resolver os problemas”, defende Graeff.
Ele cita como exemplo dessa participação das empresas a implantação da Ferrogrão (EF-170), ferrovia entre Sinop (MT) e Miritituba (PA). “Quem fez os estudos para avaliar a viabilidade da ferrovia foram as traders”, argumenta. O projeto, orçado em R$ 12,6 bilhões, prevê o transporte de 42 milhões de toneladas de grãos e está em fase de consulta pública.
Conforme Graeff, o setor tem uma série de prioridades, algumas com soluções de curto prazo – como alta na capacidade de armazenagem – e outras de longo prazo, como as ferrovias e rodovias. “A produção de grãos brasileira vem crescendo ano a ano e a infraestrutura para transportar e armazenar essa produção ainda não está pronta”, destaca.
Dentre estas prioridades, está a BR-163, que liga Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, a Santarém, no Pará, e permite o escoamento da produção pelos portos do Arco Norte. No começo deste ano, alguns trechos da rodovia tiveram congestionamento e caminhões atolaram em locais ainda não asfaltados devido às chuvas e impediram o escoamento da safra de verão. “Sabemos que a BR 163 é prioridade desde os anos 1970. O que precisamos definir o que o pode ser feito.”
Outra questão considerada urgente é o déficit de armazenagem brasileiro, que Graeff estima ser de 100 milhões de toneladas. “Esta é uma demanda de curto prazo, que pode ser solucionada em seis meses”, estima.
O Brasil tem hoje capacidade de armazenar 144,6 milhões de toneladas segundo dados da Abag. A produção estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de entre 224,17 e 228,21 milhões de toneladas na safra 2017/2018.
Ele defende ainda a necessidade de um planejamento de longo prazo para a logística no País. Ele cita como exemplo o US Railway System – sistema de transporte ferroviário dos Estados Unidos. “O sistema nunca parou e seu planejamento não deixou de ser executado conforme o desejo dos líderes daquele país.”
Segundo ele, um planejamento eficiente permite que cada real economizado em um frete, por exemplo, significa menos imposto pago e mais recurso que pode ser investido pelo produtor no campo.