Foton avalia compra da fábrica da Ford em São Bernardo

Por: Marli Olmos e Cristiano Romero/Valor-/
A fabricante de caminhões chinesa Foton é uma das candidatas à compra da fábrica da Ford, que decidiu encerrar operações em São Bernardo do Campo (SP) neste ano. Marcio Vita, presidente executivo da Foton Aumark Brasil, representante da empresa chinesa no país, estará na China na próxima semana para explicar à direção da montadora que as instalações da Ford podem ser uma alternativa para o projeto de uma fábrica da marca no Brasil.
O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, controlador e presidente do conselho da Foton Aumark, defende, porém, que os chineses mantenham o projeto original, de construir uma fábrica em Guaíba (RS), onde os sócios brasileiros já têm um terreno, adquirido junto com um pacote de incentivos fiscais estaduais.
Outro forte candidato à compra da fábrica da Ford no ABC é o grupo CAOA, do empresário Carlos Alberto Oliveira Andrade, que hoje produz no Brasil veículos da marca coreana Hyundai e da chinesa Chery. Mas a indefinição em torno do financiamento para essa aquisição emperrou as negociações do governo de São Paulo com o grupo CAOA.
Segundo fontes a par do assunto, o grupo CAOA solicitou um financiamento de R$ 2,7 bilhões ao governo paulista para executar seu projeto industrial no ABC. O pedido foi, no entanto, negado. O governo de São Paulo ofereceu a CAOA o programa lançado no mês passado, que prevê desconto gradual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos veículos produzidos a partir de novos investimentos.
A decisão da Ford de abandonar a produção de caminhões no Brasil entusiasmou a direção da Foton, segundo Mendonça de Barros, porque abre espaço no mercado para a marca chinesa expandir vendas. A Ford detém 12% do mercado brasileiro de caminhões. “No caso da linha leve, 50% dos modelos que a Ford vende hoje tem opções similares na Foton”, destaca.
As alternativas serão colocadas na mesa na próxima semana. Mas Mendonça de Barros diz que, como representantes da marca no Brasil, ele e Vita defenderão a manutenção do projeto de Guaíba. Um dos problemas da instalação no ABC, já antiga, diz ele, é que a fábrica está construída em dois níveis – em um está a linha de automóveis e no outro a de caminhões. A localização, no berço do movimento sindical, também o preocupa. “Essa fábrica está no colo do sindicato dos metalúrgicos do ABC”, afirma.
A Foton decidiu produzir no Brasil em 2010, na véspera da crise que fez a venda de caminhões despencar. Mendonça de Barros assumiu a representação da marca no país e fechou com o então governador Tarso Genro (PT) incentivo no recolhimento do ICMS e a doação do terreno, de 150 hectares.
Na negociação com a Foton China, foi acertado que inicialmente a produção dos veículos ficaria a cargo da empresa brasileira, sob licença da marca. Os chineses entrariam no projeto futuramente. Enquanto esperava a crise passar, o grupo fechou acordo com a Agrale para montar os veículos Foton na fábrica da empresa brasileira, em Caxias do Sul (RS).
Com a retomada do mercado, agora, uma operação própria tende a ser mais lucrativa. Daí a volta do interesses dos chineses pelo projeto brasileiro. A ideia inicial era começar a produzir em Guaíba em 2020 numa fábrica erguida com investimento da matriz, calculado em R$ 100 milhões e com a empresa brasileira como sócia. O fim das atividades da Ford e o envolvimento do governo de São Paulo na busca de um comprador para essa fábrica abriu uma nova opção de negócios. Segundo Mendonça de Barros, no futuro a Foton China assumirá toda a operação.
A venda da fábrica da Ford é a esperança de 2,8 mil funcionários da fábrica de São Bernardo, que têm estabilidade até novembro. Os interessados não falam, ainda, sobre a manutenção dos empregos, embora o governador João Doria (PSDB) tenha repetido várias vezes que busca interessados em não só comprar as instalações como também manter os empregados.Há um terceiro interessado na compra, segundo representantes do governo estadual e do sindicato.

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