Atual modelo de escoamento da produção agrícola nacional está no limite

Como superar os desafios logísticos para garantir um desenvolvimento ainda mais contínuo e robusto do agronegócio brasileiro, como a falta de integração entre os diferentes modais de transporte para promover uma distribuição eficiente ao redor do país? Este foi o assunto que impulsionou os debates que encerraram a programação de conteúdos do Intermodal | Agro Digital Series 2021, realizado no dia, 29/06.

Segundo o diretor de logística e operações da Coamo Agroindustrial Cooperativa, Edenilson Carlos de Oliveira, um dos especialistas que participaram do evento online, este é um tema que precisa ser discutido, já que o Brasil está com um modelo de negócios saturado no setor no que compete ao escoamento e a distribuição. “O país está com um modelo fadado a não dar mais certo, em função do constante crescimento da produção agrícola. Isso está se mostrando um gargalo lá na frente, porque, com os volumes aumentando, com os portos tornando-se cada vez mais eficientes e com uma capacidade cada vez maior de armazenagem e de embarque nos navios, o desafio agora passa a ser outro: a distribuição. E é aí que está o problema, pois ela ainda é muito dependente do transporte rodoviário”, disse.

Na visão de Oliveira, a dificuldade será fazer essas cargas chegarem aos destinos com a velocidade necessária, via caminhões. “Não fará sentido ter caminhões rodando cerca de 1.500 km com cargas Brasil afora. Não vamos conseguir crescer o quanto desejamos se continuarmos na dependência do rodoviário. Por isso, a multimodalidade é cada vez mais necessária. O país tem que pensar de uma forma estratégica e caminhar rumo a essa mudança”, complementou.

Quem também marcou presença neste encontro virtual – foi o diretor-presidente da DP World Santos, Fábio Siccherino. “Quando olhamos para o Brasil vemos que perdemos cada vez mais competitividade global. Não figuramos mais nem entre as dez maiores economias do mundo e o atual desempenho do comércio exterior tem influência nisso. Hoje, o setor representa apenas 1,1% do nosso PIB. Então, de nada adianta que os terminais portuários estejam investindo e se aprimorando se as cargas não chegam até eles”, destacou.

Siccherino ressaltou ainda que o Brasil precisa de alternativas ao modal rodoviário, como a cabotagem e as ferrovias. “Usando como exemplo o porto de Santos (SP), onde a DP World atua: as rodovias de acesso ao porto são as mesmas há anos e estão cada vez mais colapsadas. Já as cargas que chegam via modal ferroviário não totalizam nem 30% da capacidade do terminal, o que é pouco. A Santos Port Authority precisa avaliar maneiras de criar novos acessos ferroviários ao porto ou de reestruturar as malhas existentes para movimentar os produtos, seja na exportação ou na importação. Outra questão que precisa ser avaliada é a cabotagem: Santos, por exemplo, recebeu autorização para receber navios maiores, de 366 metros. Quando começarem a chegar, não vão navegar por toda a costa brasileira; vão acabar indo aos portos maiores, implicando na figura do feeder para fazer a distribuição ao restante do país. Ou seja, a cabotagem seria a melhor alternativa. Mas é claro que, para que ela se torne efetiva no Brasil, é necessário reduzir os custos do modal, que são muito altos”, afirmou.

Outro ponto abordado foi o Arco Norte e os portos das regiões Norte e Nordeste do país e se poderiam representar alguma ameaça ou concorrência aos terminais portuários do Sul e do Sudeste do Brasil. O diretor de desenvolvimento da VLI Logística, Vanderlei Marques, no entanto, rechaçou essa tese. “Temos que encontrar alternativas para atender as demandas dos clientes e não ficar brigando para ver qual trecho, ferrovia ou porto seria melhor. Temos que olhar os benefícios de cada um para o setor como um todo e a competitividade que oferecem para o mercado em si. Assim todos ganham, afinal, tem espaço para todo mundo no mercado. A própria VLI tem soluções para todos esses endereçamentos e se dispõe a praticá-las onde quer que os clientes estejam”, pontuou.

Fonte: Coletivo da Comunicação/Portal do Agronegócio